sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EPISÓDIO 1x3 - LAÇOS SOMBRIOS

EPISÓDIO 1x3:
LAÇOS SOMBRIOS
ESCRITO POR RAUL ORIHARA
SUPERVISIONADO POR 
RENAN AMORIM
LANÇAMENTO: 
10 DE OUTUBRO DE 2014









CENA 1. EXT. ROSALE HILL BEACH – TARDE

[FADE IN]



[Música Tocando: Partners in Crime – The Strokes]


 Alguns lugares de Rosale Hill são exibido: Imagens da praia e pessoas tomando sol. Vista aérea da cidade. CAM segue em FAST MOTION até uma parte isolada da praia onde um Alfa Romeo azul está parado. Dentro dele está Heaven e Sky. Eles fumam maconha e sorriem muito alto.

Heaven: Cara! Isso é muito bom! (gargalha)
Sky: Uma das poucas coisas que me prendem ao mundo.
Heaven: Tem razão. Nunca experimentei nada igual... É tão... (Heaven gargalha)
Sky: Alucinante? É! Muito bom mesmo.
Heaven: Nunca tinha me interessado por Marijuana.

    Heaven solta a fumaça para cima, deixando os vidros do carro cada vez mais cinzas.

Sky: Só não deixa a fumaça escapar e a polícia pegar a gente.
Heaven: Eu não tenho medo de policiais. Só acho que eles que deveriam ter medo de mim.
Sky: Falou o garoto que nunca tinha fumado Maconha.
Heaven: É sério. Não tenho medo de homens com armas.

    Sky ignora a conversa e traga novamente. Ele solta a fumaça na cara de Heaven.

Heaven: Seu idiota!

     Sky gargalha e pega seu telefone num compartimento do carro.

Heaven: Legal esse carro novo.
Sky: Ele faz o meu tipo. Apesar de não ter tido dinheiro suficiente para um modelo melhor, eu estou muito feliz. Ele é o meu mais novo objeto de destruição

   Heaven sorri.

Heaven: Vai se acidentar com ele novamente?
Sky: Não. Mas vou usá-lo para acidentar quem estiver no meu caminho.

   Heaven olha para uma foto do celular de Sky. Uma foto de quando ele era criança. Atrás, os pais dele com os rostos quase apagados.

Heaven: Por que quer tanto encontrar seus pais biológicos? Você não me contou...
Sky: Heaven, Heaven... Meu amigo. Existem coisas feias do passado que nem mesmo o mais belo dos futuros pode apagar.

    Heaven franze o cenho.

Heaven: (sorri) Cara! Quanto mais você fala, menos eu entendo você.
Sky: Eu não sou algo para se compreender com facilidade, mas se você quer realmente saber... Eu tenho um grande objetivo.
Heaven: Que objetivo? Relacionado aos seus pais?
Sky: Relacionado aos meus pais. Tenho planos. Planos tão horríveis quanto tudo o que eles me fizeram.
Heaven: E o que eles fizeram a você?
Sky: Me deixaram uma ferida que não consegue cicatrizar. Destruíram a minha infância. Arrebentaram os meus sonhos e as minhas verdades.
Heaven: Vai destruí-los?
Sky: Ainda nem sei onde estão, mas a destruição total deles pelas minhas mãos é um fato.
Heaven: A que tipo de destruição se refere e como vai fazer isso?
Sky: Você faz perguntas demais, Sullivan.
Heaven: É que talvez eu possa ajudar você em alguma coisa, mas preciso saber tudo a respeito desse seu ódio inocultável pela sua família biológica.
Sky: Melhor não se envolver nisso, Heaven. Você está bem melhor no lugar onde está.
Heaven: Eu estarei bem melhor em qualquer lugar em que eu queira estar.
Sky: Continue fumando a sua maconhinha... É bem mais divertido do que falar sobre uma possível diversão.

[Música Para]


    Heaven sorri e volta a fumar. Sky olha para o vazio, sério. CAM focaliza em seu olhar frio.

Voice over: Mamãe, não! Por favor! Não! Me tira daqui! Mãe! Pai!


[TELA PRETA]


[ABERTURA]












CENA 2. INT. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE – TARDE.
   
O quarto de Alice está totalmente bagunçado. Caixas com tecidos estão sobre a cama. Araras com vestidos e outras peças de roupas estão no meio do cômodo. Papéis, canetas coloridas e desenhos espalhados pelo chão. Alice está sentada diante de uma máquina de costura fazendo seu mais novo trabalho. Ela corre para pegar outro tecido. Richard entra no quarto e se depara com a bagunça.

Richard: Não me diga que os furacões estão invadindo a Califórnia, também.

  Alice sorri, mas volta ao trabalho.

Richard: Não seria melhor se você tivesse uma equipe? Seria menos exaustivo, Alice.
Alice: Eu ainda não possuo estruturas e poder necessário para isso, pai.
Richard: Um pequeno staff não arrancaria um pedaço do seu estômago. Dá pra montar uma equipe simples e eficiente, gastando pouco. E depois, os lucros vão ajudar você, não acha?
Alice: Minha cabeça não está funcionando bem para administração. Eu preciso focar no meu trabalho.
Richard: Como vai dar conta disso tudo, sozinha?
Alice: Eu sempre dei meu jeito pra tudo. (sorri) Vou conseguir.


CENA 3. EXT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS - TARDE.

   Sky chega à casa junto a Heaven. Dakota está se preparando para sair. Sky se despede de Heaven, passa por Dakota sem cumprimentá-la e entra. Heaven o observa e a mãe do rapaz o aborda.

Dakota: Olá, Heaven. Como vai?
Heaven: (sorri) Eu vou bem, senhora Daniels.
Dakota: Vejo que o Sky não desgruda mais de você. Isso é bom, você é uma ótima companhia.
Heaven: Nem tanto. O Sky que é uma boa pessoa.
Dakota: Ele tem se comportado muito bem ultimamente. De um jeito que não se comportava até semana passada. Acho que você tem dado conselhos para ele, só acho, apenas.
Heaven: Por favor, eu não tenho essa capacidade.
Dakota: O Sky é muito rebelde. Eu só quero lhe pedir, se não for grande coisa... Já que é um dos poucos amigos que ele tem por aqui. Quero que o mantenha longe de qualquer confusão.
Heaven: E que tipo de confusão ele pode se meter?
Dakota: Ele tem uma obsessão pelo passado, Heaven. É perigoso demais não só para ele como para as pessoas que o cercam.
Heaven: Perigoso?
Dakota: Eu já tentei explicar várias vezes ao meu filho que o passado deve ficar no seu devido lugar, lá atrás. Mas ele insiste em me desafiar.
Heaven: Continuo sem entender.
Dakota: Você sabe do que eu estou falando. Provavelmente ele já lhe contou sobre a adoção dele e todas as coisas que aconteceram antes de adotá-lo.
Heaven: Não sei muita coisa e também não quero me envolver nisso.
Dakota: Você salvou a vida do meu filho uma vez, faça um pequeno esforço para que não tenha que salvar uma segunda.
Heaven: Me desculpe, mas eu não sou guarda-costas do Sky. Sou apenas um novo amigo dele e não irmão ou protetor.
Dakota: Não me leve a mal. Eu quero dizer que seja lá o que ele te disser, rebata. Não aceite as coisas que ele fala. Dê conselhos a ele. Meu filho perdeu a noção do que é bom e ruim.
Heaven: Isso é mesmo muito complicado. Mas não se preocupe, eu vou sempre aconselhá-lo da melhor forma possível. Só não posso garantir que ele vá tirar essa busca pelos pais da cabeça.
Dakota: Faça o que tiver de fazer. Você só terá a ganhar comigo.
Heaven: Acho que a senhora está enganada quanto ao meu caráter. Eu não tenho nada a ganhar com ninguém. Se eu aconselhar seu filho, será por causa dele e não por motivos pessoais, minha senhora. Eu não preciso da nada, eu não preciso nem de mim mesmo.
Dakota: Desculpe, eu não quis ofendê-lo. Seja o que for, Heaven... Não deixe que ele crie confusão. Estou tentando proporcionar o que é bom para o Sky.

   Heaven mira o rosto de Dakota, seriamente e se retira.

Heaven: (tom baixo) Que maluca! Humanos... Sempre cheios de segredos e de prepotência.


CENA 4. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/COZINHA – NOITE.



[Música Tocando: You’ll Never See Me Again – Adele]

    Conrad prepara o jantar. Ele faz várias coisas ao mesmo tempo, bagunçando a cozinha. Claire aparece na cozinha, assustando Conrad.

Conrad: Droga!
Claire: Te assustei?
Conrad: Eu estou sem tempo para brincadeiras, garota.
Claire: Que jantar mais lindo? Quem vai aparecer aqui hoje? Violence?
Conrad: Ninguém. É apenas um jantar normal de uma família normal.
Claire: Ah, é mesmo! Esqueci que você tenta ser normal.
Conrad: Não só eu, como também o meu irmão.

    Claire olha para Conrad perplexa e sorri.

Claire: Heaven está cada dia mais humano. Esquisito como ele vive acompanhado por aquele mortal chamado Sky.
Conrad: Sabe, eu acho muito bom ele andar com humanos. Andar com uma certa garota que tem prazer em arrancar almas estava deixando ele louco demais.
Claire: E o que um humano pode ensinar a Heaven? Sobre o mundo humano? Heaven já sabe de tudo isso. Ele é inteligente, saboreia todas as formas de arte e lazer, conhece os sentimentos humanos como ninguém.
Conrad: Ele conhece os sentimentos humanos que os Reapers ensinaram a ele, não o que os humanos têm de bom a ensinar.
Claire: As únicas coisas que Heaven poderá aprender com humanos é ter ódio e pena deles ao mesmo tempo.
Conrad: Acho que o ódio não vale só para a raça humana. Você, como Reaper, tem um ódio tão grande dos humanos.

    Claire suspira.

Conrad: Ah sim, eu esqueci que você também era uma. Seu ódio é tão grande que não aguentou ser uma mestiça por muito tempo. Você me dá nojo.
Claire: Lhe causo nojo? Será que lá no fundo, você tem nojo de mim?
Conrad: Você conhece os meus sentimentos. Eu nunca vou te perdoar pelo que você fez... Claire. Nunca.
Claire: Por quanto tempo ainda vai guardar essa mágoa?
Conrad: Você conseguiu a eternidade de uma emoção tão vã e ao mesmo tempo conseguiu a eternidade do meu rancor.

    Claire se aproxima de Conrad quase o beijando.

Claire: Por favor, não faz isso comigo... Você não sabe o quanto isso me dói.

   Conrad empurra Claire levemente e sai de perto dela.

Conrad: Não vem com esse joguinho pra cima de mim. Se isso realmente doesse, você jamais teria feito o que fez.
Claire: Eu... Eu não... Conrad, será que você nunca vai acreditar em mim?
Conrad: Diga o que você quiser. Sai daqui, Claire. Heaven já está em casa. Ele sabe das obrigações. Já teve o seu treinamento. Eu te agradeço muito por ter cuidado dele no último ano, mas realmente não tem mais motivo algum para você ficar me rodeando.

  Claire cai em lágrimas e Conrad fica impassível diante da situação.

Claire: Não acredito que você está me dizendo essas coisas? Eu não estou aqui por sua causa. Eu estou aqui por seu irmão como eu sempre estive.
Conrad: Olha. Eu não quero saber, okay? Só me deixa em paz. Vá arrancar as almas que você tanto ama arrancar. Me esquece!

 Claire olha para Conrad com raiva e desaparece. Ele fecha os olhos, observando-a queimar. CAM focaliza nas chamas do forno aceso. Conrad aperta um botão e elas cessam.



CENA 5. INT. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE – NOITE




[Música Tocando: Fundo – Phill Veras]

 
Alice deitada em sua cama, olhando para o teto. Ela está cansada. Os vestidos que fez estão todos pendurados nas araras. CAM filma todo o quarto e focaliza nos pés de alguém andando pela sacada do quarto de Alice. Heaven toca nas cortinas de seda rosa do quarto e observa as fotos de Alice com amigos na parede. Ele mira a garota deitada na cama e depois toca nos vestidos que ela produziu. O Reaper sorri e se aproxima de Alice que se levanta assustada.

Heaven: Oi.
Alice: Ah! Oi, Heaven (sorri). Não apareça mais assim, por favor.
Heaven: Me desculpe, eu não consigo controlar essa minha mania de andar pelas sombras.
Alice: Se não quiser me matar do coração, eu lhe aconselho a entrar como uma pessoa normal.
Heaven: Eu sou a morte. Matar é a minha principal função.
Alice: Seu engraçadinho...
Heaven: Vejo que já terminou o seu trabalho diário. Ficaram todos lindos... Você tem muito talento, Alice.
Alice: Ouvir isso não vai me levar onde eu quero, mas muito obrigado. Um elogio me salva do cansaço.
Heaven: Qual o segredo? Me diz. Como consegue dar conta de tantos vestidos, sozinha?
Alice: Da mesma forma que você consegue dar conta de tantas almas ao redor do mundo. Chama-se dedicação.
 
  Heaven faz uma careta.

Heaven: Gosto do seu jeito. Você vai longe. Só precisa ser um pouco mais organizada. Olha só pra essa bagunça... Nada bom para uma estilista.
Alice: Mania minha. Preciso fazer bagunça exteriormente para manter minha mente organizada. Mas fala aí, como você está? O que anda arrancando?

    Os dois dão gargalhadas.

Heaven: Eu estava por aqui perto e resolvi te ver.
Alice: Me ver? Eu não sou uma obra de Arte que valha à pena.
Heaven: Você não é uma obra de arte. Você é A Arte em sua mais crua existência.
Alice: Você está bêbado?
Heaven: Não. Mas eu fumei Marijuana.
Alice: Heaven? Eu não acredito que você usa isso.
Heaven: Foi o Sky Daniels que me apresentou a essa maravilha.
Alice: Sky Daniels? Aquele retardado? Se continuar andando com aquele rapaz, eu vou começar a desconfiar do seu caráter de bom moço.
Heaven: Não precisa desconfiar. Eu não sou um bom moço. Até uma semana atrás, você não me achava um bom moço.
Alice: Tem razão...
Heaven: Eu estou meio cansado. Preciso manter minha alma satisfeita, também.

    Alice se levanta e empurra as araras com vestidos para uma parte vazia do quarto.

Alice: Como é a sensação?
Heaven: De arrancar as almas?
Alice: Sim. Como você consegue? Não é horrível?
Heaven: Digamos que eu já esteja acostumado com isso. É normal. Sinto-me como se estivesse liberto ao dar liberdade a cada uma delas.
Alice: Como pode uma pessoa sentir-se liberta ao ter sua alma arrancada?
Heaven: Não sei. Mas se não as libertarmos dessa vida elas fogem e dão trabalho aos Reapers ou até mesmo, ficam no corpo dos humanos, presas e inquietas e perseguem as outras pessoas.
Alice: Como assim?
Heaven: Existem muitas coisas que você não sabe sobre o mundo dos Reapers, nem eu sei de tudo. Só faço unicamente a minha obrigação.
Alice: Sabe, toda vez que eu vejo um Reaper... Que vejo você... Eu me lembro da minha mãe. Ela era tão linda, tão cheia de vida... Tão voraz.
Heaven: Assim como você?
Alice: Eu não me considero uma pessoa cheia de vida. Eu me acho meio morta.

   Heaven sorri.

Heaven: E eu me acho um 333.
Alice: Um 333? O que é isso?
Heaven: Um meio besta.

    Alice dá uma gargalhada e volta a se sentar.

Alice: Seu palhaço.

    Alice pega um porta-retratos no seu criado-mudo. O rosto de sua mãe estampado na foto.

Heaven: Ela era muito linda igual a você.
Alice: Sempre tão linda. Infelizmente, eu tive a má sorte de vê-la sendo morta.
Heaven: Ela suicidou-se, Alice.
Alice: Oh! Desculpa... Eu devo me lembrar disso. ‘Um Reaper arrancou sua alma’ e eu apenas observei tudo. Acho que a imagem ficou presa na minha mente de um jeito inevitável. É como se a Reaper que a levou quisesse que ela se jogasse, mas eu juro que me lembro disso muito bem.
Heaven: Alguns Reapers são debochados e não gostam de humanos, mas eles não podem matar humanos e nem ser influentes sobre suas mortes. Do contrário, eles morrem.
Alice: Minha nossa... (Alice coloca o retrato no lugar) E a sua mãe, Heaven? Como ela era?

   Heaven olha para o vazio e sorri.

Heaven: Minha mãe... Ela era uma boa pessoa como humana e temível como uma Reaper.
Alice: Como assim? O que ela fazia de tão temível?
Heaven: Ela era uma das mais fortes Reapers de sua geração.

                     
                        [FLASHBACK IN]

 CENA 6. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA DE JANTAR – DIA.


     É a hora do almoço na casa dos Sullivan. Heaven com 8 anos e Conrad com 15 estão sentados à mesa com o seu pai (Christian Bale). A mãe dos garotos (Jennifer Connelly) senta-se em seguida trazendo consigo uma travessa com petiscos.

Pai de Heaven: Bom, como foi o treinamento hoje, Conrad? Ele se saiu bem no treino, Elena?
Conrad: Foi bom, pai. Muito bom.
Elena: (séria) Foi admirável, John. Ele já sabe usar a DARKFIRE para se teleportar. Só tem que parar com esse medo absurdo de ser um Reaper. Isso é apenas o começo, meu querido.
John: Infelizmente, você precisa fazer isso, Conrad.
Elena: E você, Heaven, meu anjinho? Como foi sua aula de Violino?

    Heaven faz cara de zangado.

Heaven: Uma chatice. A professora me colocou de castigo só porque que eu quebrei todas as cordas dos instrumentos. Eu não aguento mais.
Elena: Mas por que você fez isso?
Heaven: Eu não fiz de propósito. Apenas fui tocar Violino. A aula não é essa ou o quê?
John: Heaven! Veja como fala com a sua mãe.
Heaven: Ah! Se ela me deixasse treinar assim como ela faz com o Conrad, eu não teria que aturar aquela mulher. Por que a senhora não me ensina a fazer as coisas que o Conrad faz?

    Os pais de Heaven se entreolham.

Conrad: É! Por que a senhora não ensina a ele? Talvez assim a senhora me poupe um pouco. Quer tanto que eu alcance a perfeição. Eu não quero sair por aí tirando as almas de gente como eu.
Elena: Calem-se os dois. Heaven, você ainda não sabe fazer nada e nem vai fazer nada, está me entendendo? Conrad! Você vai treinar novamente hoje como castigo pelo seu atrevimento.
Conrad: Mãe!
Elena: Sem discussões! Heaven... Você também está de castigo!
Heaven: Posso treinar com a senhora?

    A mulher arfa.

Elena: Você vai ficar trancado no quarto e só vai sair quando me tocar Brahms, Beethoven e Mozart!
Heaven: Mas eu quero ser um Reaper!
Elena: Isso não é uma brincadeira. Primeiro, os estudos!
Conrad: A culpada disso tudo é você! A senhora que me deu esse destino. Eu odeio todo esse mundo! Eu não quero fazer isso!

   Conrad sai da sala de Jantar. Heaven observa os pais se olhando seriamente.

Heaven: A culpada disso tudo é aquela vaca da minha professora. Não sabe renegar umas duas ou três cordinhas...

   Heaven corre atrás do irmão.

[FLASHBACK OUT]




CENA 7. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE – NOITE

    Heaven e Alice no quarto continuam conversando.

Heaven: (sorri) Minha mãe era legal, mas era muito rigorosa com o meu irmão. Ela sempre quis me manter afastado dos Reapers, mas eu sempre fui interessado por esse mundo, diferente do Conrad. Comigo ela bancava a humana.  
Alice: Que tensão. Você era mesmo muito hiperativo.
Heaven: Sim...

   Alguém bate à porta do quarto de Alice.

Richard (voice off): Alice? Posso entrar?
Alice: Oi, pai. Pode sim.

  Richard aparece no quarto e olha Heaven.

Alice: Ah! Pai, quero lhe apresentar o Heaven... Um amigo que está me ajudando com as roupas. O senhor não disse que eu precisava de ajuda?
Richard: Sim... Olá, Heaven! Muito prazer

    Richard cumprimenta Heaven com um aperto de mão e se volta para a filha.

Richard: Alice... Desculpe, interromper, mas é que há uma visita para você lá embaixo.

    Alice e Heaven se entreolham.

Alice: Quem é?
Richard: Veja por si mesma.
Alice: Okay.



CENA 8. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/SALA – NOITE.


    Alice desce até a sala para receber sua visita. Heaven e Richard a seguem. Um rapaz (Drew Roy) está de costas, observando as pessoas na rua pela janela.

Alice: Oi?

   O rapaz se vira e sorri para a garota.

Alice: Clark!

   Ele corre e dá um abraço em Alice. Ela fica paralisada, mas logo depois, retribui. Heaven observa tudo e olha para baixo.

Alice: Eu não acredito que você veio.
Clark: Foi a viagem mais longa que eu fiz na vida e não falo isso por causa da distância de Nova Iorque pra cá. A saudade de você estava realmente me matando.

    Clark beija Alice. Richard pigarreia. Heaven finge que nada está acontecendo por ali.

Clark: Eu vou passar uma temporada por aqui, se não for incomodar.
Alice: Não, jamais. Eu também estava com saudades.

   Alice vira-se para Heaven e puxa Clark.

Alice: Quero que conheça o meu primeiro amigo californiano... Clark, este é Heaven Sullivan. Heaven, este é Clark Dylan, meu namorado.
Clark: Olá, Heaven.

   Clark e Heaven se cumprimentam com um aperto de mão. Heaven sorri, mirando o olhar crítico do rapaz.

Clark: Então, Alice. Está gostando da Califórnia?
Alice: Muito e eu não pretendo voltar para Nova Iorque tão cedo. Já fiz muita coisa por aqui. Esse lugar me dá inspiração e é por isso que eu vou continuar.
Clark: Você está muito diferente.
Alice: Obrigada pelo elogio. Eu estou livre de tudo aquilo...

   Um som interrompe a conversa. Heaven sorri e aponta seu telefone berrando Twisted Nerve de Bernard Herrmann.

Heaven: Me desculpem... É o meu irmão. Alice, eu tenho que ir.

    Heaven beija Alice no rosto. Clark olha a cena, gélido.

Heaven: Nos vemos por aí, depois! Boa noite a todos!



CENA 9. INT. AGÊNCIA DE MODELOS D-DNA/SALA DE DAKOTA. – NOITE.

   Dakota está sentada em sua mesa e bebe Champagne. Ela pega um porta-retratos com as fotos de Sky e mais um garoto. Ela o desmonta e retira de dentro um envelope preto. Ela coloca o objeto no lugar e olha a enorme avenida da cidade pela janela panorâmica.
Dakota: Esta cidade é minha agora... Assim como a sua vida pertence a mim, Sky. Eu não deixarei que ninguém toque em você.



CENA 10. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/QUARTO DE DAKOTA – NOITE.

  Sky entra no quarto de Dakota. Ele anda devagar para não topar e derrubar nada.

Sky: Finalmente, só eu e os seus segredinhos em casa, mamãe.


  Ele avança na direção do closet da mãe. Ele abre as portas do compartimento e procura por alguma coisa. Prateleiras com uma grande quantidade de sapatos de grife e roupas estão fixas em todas as paredes do closet. Sky vasculha algumas gavetas com peças de roupa. Ele procura entre os sapatos e nada encontra. Sky sai do closet e resolve procurar embaixo da cama. Ele abre gavetas das mesas e não encontra o que procura. O rapaz fita uma agenda em cima de uma lareira. Sky corre e a pega. Ele a folheia e fica decepcionado ao vê-la em branco, mas um pedaço de papel cai. Rapidamente o recolhe e lê o que está escrito.

Sky: Ora, ora... Margareth Thompson... Margareth... Thompson… Só podia ser você.


                            FLASHBACK IN

CENA 11. ORFANATO SAN FRANCISCO

  
 LEGENDA: ORFANATO SAN FRANCISCO, SÃO FRANCISCO – CALIFÓRNIA. 1996.


  Um menino é arrastado pelo braço num corredor vazio por um enorme homem vestido de terno, cujo rosto não aparece. Ele se debate, furiosamente. O homem lhe chuta e o garoto cai no chão sentindo muita dor. Logo atrás, uma mulher e um homem aparecem, os rostos também ficam ocultos. Ambos vestidos de preto e usando joias cintilantes. O menino mira cada um deles com raiva. O homem mais alto pressiona o pé contra o rosto do menino.

HOMEM ALTO: Olhe para baixo, pirralho!
MENINO: Tio Rob! Não! Por favoro!
HOMEM ALTO: Por favoro? O pirralho não sabe nem falar.
MULHER: Creio que essas duas também não vão saber falar nada... Não é mesmo, Margareth?
   
  A diretora do orfanato (Meryl Streep) aparece no corredor, ao seu lado está uma jovem mulher. Ambas observam o que o homem está fazendo ao menino.

MULHER: Olá, Margareth Thompson.
Margareth: Mas o que significa isso?!
MULHER: Eu lhe trouxe uma bagagem.

   A jovem que está ao lado de Margareth corre para impedir que o homem alto continue maltratando o menino.
JOVEM MULHER: Pare! O que está fazendo?

  O homem mais alto empurra a jovem e lhe joga o menino.

Margareth: Meu Deus! Pode me explicar isso?
MULHER: Aqui está a minha encomenda. Sete anos. Um verme.
Margareth: Mas é o seu filho... Quando você me ligou, eu não pensei que fosse para me mostrar isso!
MULHER: Eu sabia que não iria gostar dessa coisa...
Margareth: Me refiro ao que vocês estão fazendo com esta criança! Vocês estão ficando loucos?

    O homem que acompanha a mãe do menino se aproxima de Margareth.

HOMEM: Vai abrigar o garoto aqui ou não?
Margareth: O que vão fazer se eu não aceitá-lo?
MULHER: Se você não aceitá-lo só nos restará uma alternativa...
HOMEM ALTO: Não podemos ficar com o moleque. Ele é um peso nas nossas costas.
Margareth: Como podem dizer uma barbaridade dessas?
HOMEM: Senhora Thompson. Nós fizemos escolhas em nossas vidas, escolhas que mudaram nossos destinos e ter esse menino conosco não foi uma delas. Aceite-o e será melhor para todos nós... Tanto para você como para ele.
MULHER: Mantenha-o longe dos nossos nomes. Faça-o esquecer de nossas existências. Quero essa praga longe de mim! Esse menino é um estorvo! Eu não vou ficar com isso.
Margareth: Como pode falar assim do seu próprio filho? COMO?! Eu não pensei que fosse capaz de fazer isso! Eu pensava que você tivesse um coração...
MULHER: A senhora só conhece o meu passado, Margareth! Não me conhece... Nem muito menos a esse pirralho! Se a senhora deseja tanto que ele venha conosco, pois bem. Ele virá e nós mostraremos a morte a ele.
Margareth: O que vão fazer daqui pra frente?
HOMEM: Deixaremos ele aqui com você e iremos embora para nunca mais.
Margareth: Por que estão fazendo isso com o menino? Ele não merece... É só uma criança.
MULHER: Ele não sabe quem nós somos. Não conhece os nossos nomes e o mantivemos assim durante todo esse tempo. Se abrir a sua maldita boca para ele só o colocará em perigo. Pegue-o. Dê pra qualquer um. Suma com isso de nossas vidas.
Margareth: Eu não te conheci assim...
MULHER: Eu sempre fui assim.
HOMEM: O recado está dado... Se algum dia esse menino entrar em nossas vidas novamente será o fim dele e depois...
MULHER: Nós iremos atrás de você e arrancaremos os seus lindos olhos de Mortiça Adams. Está me entendendo?
HOMEM ALTO: Sabe muito bem que somos capazes disso, não sabe? Tia Margareth?

   Margareth faz que sim com a cabeça, amedrontada. A mãe do menino tira de seu casaco preto, um envelope preto.

MULHER: Pegue!
Margareth: O que é isso?
MULHER: Uma carta. Entregue aos imbecis que adotarem o pirralho.
Margareth: Para quê?
MULHER: Para que não se atrevam a nos desrespeitar. Para que o mantenham bem longe da minha vista. Nela há provas concretas do que somos capazes.

   A jovem mulher abraça o menino.

JOVEM: Não vão tocar mais um dedo sequer nele!
MULHER: Saiba que nós só não o matamos porque sabemos como é sentir a morte de perto quando criança e é assustadora a sensação. Quanto a bater nele... Isso não é nem brincadeira perto do que fizeram conosco na infância. Portanto cale a sua boca, sua meretriz.
   
 A mulher golpeia a Jovem no rosto.

Margareth: Deixe-nos em paz! Vão embora! Eu farei o que vocês estão mandando! Cuidarei do garoto no orfanato. Agora sumam daqui, vocês três. Vão para o inferno se puderem.
   
 A mulher sorri e dá as costas para Margareth.

MULHER: Cuide bem dele, Margareth, porque se não o fizer... Eu cuidarei. Mantenha essa pérola na concha.
Margareth: Eu cuidarei dele e me encarregarei de que não os veja nunca mais em sua vida.
MULHER: Amém! Minha querida... Amém.
HOMEM: Tenha isto como um adeus.

   Os três andam lentamente até desaparecerem pelo corredor. Margareth olha quando eles somem e volta seu olhar para o menino, sentado no chão. O cabelo loiro desgrenhado e roupas rasgadas. Suas unhas estão enormes e sujas. Há feridas por todo o corpo. Ele chora. Margareth fita-o por meio minuto e algo chama sua atenção.

Margareth: Meu Deus! O que eles fizeram com esse menino?

FLASHBACK OUT



CENA 12. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA DE JANTAR – NOITE.

   Conrad entra na sala trazendo uma bandeja coberta. Ele a coloca na mesa e tira a tampa. Heaven está sentado mexendo em seu telefone. Conrad bate na tampa para despertá-lo.

Conrad: Lasanha!
Heaven: (sorriso amarelo) Legal.

    Conrad mira o irmão perplexo.

Conrad: Ei rapaz, o que você tem? Olha aí a lasanha, cara!
Heaven: Eu não estou com fome. Pra falar a verdade eu não entendo porque você insiste em fazer esse jantar todo final de semana.
Conrad: Heaven! Todas as sextas eram os únicos dias em que nossa família se sentava para jantar, totalmente unida.
Heaven: E o quê que tem? Você está vendo o papai e a mamãe aqui? Não, não é mesmo? Então pra quê continuar fazendo isso? Pensei que quando tinha me mandado treinar com o Mestre Maian, você tivesse deixado essa mania sufocante.
Conrad: Você considera isso sufocante? Estamos honrando a memória dos nossos pais, irmão.
Heaven: A melhor forma de se honrar a memória dos nossos pais é selando almas. Coisa melhor? Impossível de existir.
Conrad: Você não vai mudar nunca.
Heaven: Eu tenho cara de Estação do ano?

   Conrad para e fita o irmão, depois sorri.

Conrad: Tem sim! Cara de Primavera.

  Conrad coloca uma flor na orelha de Heaven e começa a gargalhar.

Conrad: Viu? Olha que linda.

   Heaven lhe lança um olhar gélido. O garoto é coberto por chamas negras e aparece atrás de Conrad para lhe dar um soco. Conrad se teleporta também e reaparece do lado de Heaven lhe dando uma batida na testa. Heaven dá um soco na barriga de Conrad e ele cai por cima da Lasanha. Heaven começa a rir e escorrega em alguma coisa. Os dois caem na gargalhada.

Conrad: Eu vou te matar, seu babaca!
Heaven: Não é você que não gosta de matar ninguém?

   Conrad volta a sorrir.

Conrad: Poxa! Estragamos o jantar. Que legal.
Heaven: É pra você por um fim a essa sua loucura.
Conrad: Ah! Cala essa boca, vai!



CENA 13. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA DE JANTAR – NOITE.

    Conrad e Heaven estão terminando de limpar a bagunça na sala de jantar.

Conrad: E como vai o seu amigo “humano”?
Heaven: O Sky? Vai bem, por quê?
Conrad: Não... Nada. É que ele parece que vai sempre mal. Sei lá. O cara é esquisito.
Heaven: Pior que você e eu?
Conrad: Estou falando que ele é meio estranho para alguém da classe social dele e principalmente para alguém normal. Claro que não vai me entender. Você gosta de gente do jeito dele. Prova disso, você é fã da Lorde e do Marilyn Manson.
Heaven: O Sky é apenas um cara amargurado, só isso. E ele nem é assim um amigo. É apenas alguém que resolveu achar que eu sirvo como um bom conselheiro.
Conrad: Você não consegue dar um conselho a si mesmo. Imagina dar um conselho a um louco! Mas fala aí qual o motivo de tanta amargura.
Heaven: Coisas pessoais. A única coisa que eu sei que ele é adotado pela Dakota.
Conrad: Todo mundo sabe disso e sabe também que ele vive metido com drogas. Não quero ver você usando essas coisas, está claro?
Heaven: Você não manda em mim, babaca. Até parece que eu nunca bebi ou fumei na vida.
Conrad: Fique longe de encrenca, Heaven.
Heaven: Eu estou bem longe.
Conrad: E falando em encrenca. Tem visto a garota que tentou te atacar?
Heaven: O nome dela é Alice e eu tenho a visto todos os dias. Está mais calma com relação aos nossos.
Conrad: Ainda bem. Coitadinha... Já pensou se ela resolve pirar e sair contando pra todo mundo que nós matamos as pessoas? Iam nos investigar.
Heaven: (sorri) Iriam implorar para que déssemos conta dos corpos.
Conrad: Seria divertido.
Heaven: Nem pensar. Ela está tão... Tão bem.
Conrad: Tão bem falada. O seu assunto aqui nos últimos dias tem sido a louca que te atacou! Ela virou o quê? A sua protegida ou algo mais?

   Heaven olha para o vazio e sorri.

Heaven: Você só fala bobagens, Conrad.
Conrad: Que bobagem? Tá tão na cara que você tá curtindo essa garota. Eu dou o maior apoio.
Heaven: Não seja enganado pelo seus impulsos. Eu não estou curtindo nada. E caso você não saiba, a humana tem namorado. Somos apenas bons amigos.
Conrad: Não fica nervosinho, não. Eu sei que você curte ela. Não tente me enganar.
Heaven: Vá se ferrar, Conrad!
        


CENA 13. INT. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE – NOITE.

   Alice está tirando fotos dos seus vestidos. Clark está sentada na cama dela folheando um caderno com desenhos feitos por Alice.

Clark: Eu não entendo como ficou presa naquele lugar sendo que continuava a desenhar tão bem. Pessoas desequilibradas não desenham tão perfeitamente assim.
Alice: Eu fui obrigada a ficar naquele lugar, Clark. Aliás, eu não estava louca como todos vocês acharam que eu estava.
Clark: Você atacou a mim e aos seus amigos, Alice.
Alice: Eu sei disso, mas eu estava com raiva. Foi apenas um choque.
Clark: Um choque que durou tempo demais, não é?
Alice: O que importa é que eu estou em casa e longe daquela prisão. Tudo o que eu mais quero agora é me realizar profissionalmente.

    Clark se levanta e se aproxima da garota.

Clark: Você tem um dom incrível. Nem mesmo esse tal choque conseguiu te derrubar. Seu futuro é brilhante. Vai conseguir alcançá-lo. Quero poder ser parte do seu futuro (sorri).

   Alice sorri e Clark lhe dá um beijo. Ela fica imóvel, mas acaba cedendo. Rapidamente, ela volta a tirar fotos.

Alice: Preciso fotografar todos esses vestidos, Clark. Desculpe.
Clark: Não, tudo bem... Pode continuar. Eu fico aqui, vendo seus desenhos.

    Alice sorri.

Alice: Quanto tempo pretende ficar aqui?
Clark: Ainda não sei. Vai ser bom ficar longe de casa por um longo tempo. E o melhor é que eu vou estar perto do meu grande amor.
Alice: Não seja bobo.

   CAM focaliza nos desenhos de Alice. Um deles é de um Reaper arrancando a alma de uma pessoa.




CENA 14. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/QUARTO DE HEAVEN – NOITE.


    Heaven está deitado em sua cama, olhando para o teto. Ele fecha os olhos e morde seu lábio inferior.

Alice (Voice Over): Heaven, este é Clark Dillan, meu namorado.

    Heaven se revira na cama ao lembrar a cena.

Heaven: Alice Summers... Tão encantadora, mas com um humano em seu coração. Que tolo eu sou.



CENA 15. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/COZINHA – DIA

    Amanhece em Rosale Hill. A casa dos Daniels está calma. Sky entra na cozinha falando ao telefone. Dakota está preparando um café antes de sair para trabalhar.

Sky: Verdade, cara! Eu tinha pintado ridiculamente, mas a mulher não aceitou que eu vendesse tão barato. Cê precisava ter ouvido o que eu ouvi.

   Dakota olha para o filho.

Sky: Espere um momento (afasta o telefone do ouvido) Bom dia, mãe.
Dakota: Bom dia, querido. Eu estou saindo. Estou muito atrasada. É o Heaven? Diga a ele que estou mandando um beijo. (beija o rosto de Sky) Tenho que ir. Até mais tarde. Não vá se meter em confusão, garoto!
Sky: Pode deixar. Não se preocupe comigo.

   Dakota sai às pressas. Sky observa a mãe sair e coloca o telefone no ouvido novamente.

Sky: Heaven, você não vai acreditar. Eu encontrei uma coisa que vai me ajudar muito daqui pra frente.
Heaven (Voice Over): O que foi?
Sky: Vou precisar da sua ajuda.



CENA 16. EXT. CENTRO DE ROSALE HILL/GARDEN HILL – DIA.

     Heaven e Sky andam por Garden Hill, um parque no centro da cidade. Eles sentam-se na grama embaixo de uma árvore e observam as pessoas correndo e crianças atirando pedrinhas numa lagoa.

Heaven: Quer realmente que eu vá com você atrás dessa mulher?
Sky: Sim. Você me inspira confiança. Nos conhecemos há pouco tempo e apesar de ser quase um desconhecido, você parece muito comigo. Seu olhar transmite medo e eu vou precisar dele para arrancar alguma coisa dessa Margareth.
Heaven: Valeu pela sinceridade, mas eu não entendi uma coisa... Você saiu desse tal Orfanato San Francisco, não foi? Você sabia onde era o lugar... Conhecia a mulher e o nome dela, por que não foi atrás dela antes?
Sky: Porque Dakota sempre manipula tudo a favor dela. Eu não tive contato com mais nada daquele lugar desde que coloquei meus pés em Rosale Hill.
Heaven: E mesmo assim você não tentou? Sei lá... Procurá-la na internet. Conhecidos.
Sky: Eu sabia muito bem que ela era diretora do orfanato. Tentei várias vezes na minha adolescência entrar lá, mas fui proibido. Margareth não queria me ver. Depois de um tempo eu descobri que ela tinha ido embora para outro país e uma nova pessoa tinha assumido seu cargo. Eu me conformei após tantas tentativas.
Heaven: E foi procurando alguma coisa no quarto sempre protegido de sua mãe, que você encontrou o número de telefone atual da Margareth. Dakota Daniels nunca vacilou tanto na vida dela.
Sky: Foi um verdadeiro deslize e agora eu vou conseguir o que eu quero. Irei até Margareth.
Heaven: Quão perto dos seus pais você pode chegar com a ajuda dessa senhora?

    Sky olha para longe.

Sky: Ela sabe o porquê de eu ter sido jogado naquele lugar. Meus pais que tanto me odiaram lhe deixaram uma carta. A mesma carta que Dakota possui. Eu lembro de Margareth entregando-a a ela.
Heaven: E o que tinha na carta?
Sky: Eu não sei, mas deveria ser entregue a quem ficasse comigo. Lembro muito bem da reação dos meus pais adotivos ao lerem. Eles não me deixaram tocar na carta. Tiveram medo.
Heaven: E onde ela está?
Sky: Se eu soubesse seria perfeito, não? (pausa) Eles deram um fim. Nunca a encontrei. Até hoje cobro explicações de cada um deles sobre isso. Só quero saber quem de fato eram os meus pais e por que fizeram aquilo tudo comigo.

    Heaven mira os olhos enfurecidos de Sky.

Heaven: Você me assusta.
Sky: Sério? Eu quero assustar até mesmo quem estiver do meu lado, Sullivan.
Heaven: O que vai fazer? Se sua mãe conseguiu manter todo o seu passado apagado, como é que vai arrancar alguma coisa dessa mulher?
Sky: Eu tenho meus métodos. Não ia envolver você nos meus assuntos, mas como você faz perguntas demais, resolvi colocá-lo ao meu lado nisso tudo. Margareth deve saber quem eu sou, já que provavelmente tem contato com Dakota.
Heaven: Quer que eu fale com a diretora?
Sky: Pensar rápido é o seu forte. Gostei, mas não é bem isso. Você servirá como uma ponte. O orfanato San Francisco tem sido símbolo de grande altruísmo na Califórnia. Nada melhor que jornalistas procurarem antigos diretores... (sorri).

     CAM focaliza nos olhares dos garotos. Folhas secas voam sobre eles. A câmera se distancia com rapidez e foca em Alice Summers e Clark Dylan que estão ali perto. Os dois tomam sorvete. Clark suja o nariz de Alice com um pouco de sorvete. Ela sorri. Eles se beijam. Heaven observa tudo e fica paralizado. Sky olha para Heaven e depois segue o olhar do garoto até ver Alice.

Sky: Tudo bem, Heaven?

    Heaven olha para Sky e não responde nada. Ele volta a fitar Alice e Clark.

Sky: Cara... É a Summers, não é? Linda essa sua amiga. E está na cara que você está afim dela.

   Heaven acorda do transe e joga um olhar sólido sobre o amigo que sorri.

Sky: O que foi? Vai dizer que é mentira?
Heaven: Você e meu irmão tiraram o dia para me encher o saco.
Sky: Viu? Quer dizer que não sou o único a pensar da mesma forma. Você tá louquinho pela garota.

     Clark vai até um carrinho de sorvetes para comprar mais. Alice avista Heaven e Sky e vai ao encontro deles.

Alice: Heaven! Você por aqui?! (abraça Heaven) Olá Sky!
Sky: Oi, Alice.
Alice: O que estão fazendo? Não me diga que alimentando pássaros...
Heaven: Por que faríamos isso? (sorri)
Sky: Viemos dar uma volta por aqui. E está com quem? Com aquela coisa ali?
Alice: Como?
Heaven: E aí? Como anda o trabalho? Tudo pronto?
Alice: Sim. Estou recebendo grandes ofertas das lojas mais famosas na cidade, graças a sua mãe, Daniels.
Sky: (sorri) Dakota quando quer fazer boas ações, sempre me surpreende.
Alice: Eu ainda tenho que conversar com ela sobre alguns assuntos...

    Clark chega com dois sorvetes e observa Heaven e Sky da cabeça aos pés. Ele olha sério para os dois.

Clark: Alice?
Alice: Ah! Clark, eu vim aqui falar com os garotos.
Clark: Nós precisamos ir agora. Tenho ligações para fazer.
Alice: Okay. Meninos... Nos vemos por aí, então. Até logo, Heaven. Tchau, Sky.

   Alice dá um beijo no rosto de Heaven e se retira com o namorado. Clark olha para trás e fita Heaven com um olhar gélido. Uma voz sombria na mente de Clark o perturba.

Voz Sombria (v.o): Mantenha a garota longe dele. Esse garoto é um demônio. Não deixe que ele se aproxime dela.
Clark (v.o.): É claro que não deixarei. Ninguém vai se aproximar de Alice.

[TELA PRETA]



CENA 17. EXT. CENTRO DE ROSALE HILL/GARDEN HILL – DIA.


    

  [Música Tocando: Easy – Lorde & Son Lux]

   Os dois garotos observam Alice se afastar com o seu namorado. Sky sorri e olha para Heaven.

Sky: Sua cara não nega. Ela te entrega. Viu, como você está morrendo de ciúmes?

   Heaven olha para longe, fingindo não se importar.

Heaven: Ciúmes? Você está maluco.
Sky: É sim. Você está louco de ciúmes. Deu pra ver que a presença daquele rapaz perto da Alice te incomoda.
Heaven: Por favor. Alice é apenas uma amiga assim como você. Ela tem namorado e eu a conheci faz só uma semana. Não gosto dela, não como algo a mais.
Sky: Tá bom. Você não me engana. Conheci você recentemente, também. Mas parece que eu sei sobre tudo o que se passa na sua mente sem você ao menos abrir a boca. Você é humano. Normal sentir ciúmes.
Heaven: (sorri) Você realmente não me conhece.





CENA 18. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/QUARTO DE SKY – NOITE.

     A música da cena anterior continua tocando. A cidade é vista de cima. CAM se aproxima de vários edifícios, incluindo o edifício da D-DNA. CAM acelera e segue para a praia, onde pessoas se divertem jogando vôlei e correndo. À medida que a imagem acelera, o tempo vai passando. CAM focaliza em um corvo voando. Enquanto ele vai avançando, o céu vai mudando de cor e escurecendo. Anoitece completamente e o mesmo corvo pousa em um galho de uma árvore da casa dos Daniels. Sky está falando com alguém por telefone.

Sky: Muito obrigado, mesmo. Meu colega e eu poderemos entrevistá-la na semana que vem, então? (pausa) Ótimo. Bom, então fica assim. É nesse endereço, certo? (pausa) Okay. Muito obrigado senhora Thompson. Nós agradecemos pelo seu tempo. Tenha um bom dia.

       Sky desliga o telefone e sorri.



CENA 19. EXT. ROSALE HILL BEACH – NOITE.

  Heaven anda pela praia deserta à noite e lembra sobre Alice. Está ventando muito e a maré está cheia. O garoto é atingido por alguma coisa e é lançado para bem longe de onde estava. Ele se levanta rapidamente e não vê nada. Seus olhos azuis mudam de cor para carmim.
Heaven: Quem está aí?

  Algo se movimenta rapidamente, rodeando Heaven que observa cada movimento, assustado. Alguém dá gargalhadas e o golpeia novamente. Enquanto se levanta, ele é agarrado pelo pescoço por nada mais que Envy. As unhas pintadas de preto cravando o rosto do rapaz.

Heaven: V-você?! Me solta! O que pensa que está fazendo?
Envy: Ora, ora... O mais corajoso dos Sullivan parecendo um ratinho nas minhas mãos. Nada me deixa mais feliz.
Heaven: O que você quer comigo?!
Envy: Quem faz as perguntas aqui...

        Envy lança Heaven contra uma ROCHA. Ele se TELEPORTA até ele e crava suas unhas no pescoço do garoto novamente.
Envy: ...Sou eu. Sullivan.

      Ele solta Heaven e se distancia dele, lentamente, enquanto Heaven arfa. SANGUE escorre pelo seu rosto.

Heaven: Por que está fazendo isso comigo, Envy?
Envy: Eu faço as perguntas e se fizer outra novamente sem a minha autorização, eu quebrarei seus malditos ossos e o deixarei definhando até desmaiar.
Heaven: Você está louco.
Envy: Louco estava você quando salvou a vida de um Destinado.

    Heaven arregala os olhos, amedrontado. Envy sorri.

Envy: O que foi? Ficou com medo por ter sido descoberto? Tivesse pensado nisso antes de deixar um humano viver. Você achou que ia enganar quem? Enganou o sistema da nossa Sociedade, mas não conseguiu enganar o Reaper aqui. Eu vi tudo, Heaven. Você não pode se esconder por muito tempo.
Heaven: Eu não sei do que você está falando!      
Envy: Não seja mentiroso. (gargalha) Tinha me esquecido que você também é humano. Mentira faz parte do seu sangue fracassado. Não queira me enganar. Teve muita sorte naquele dia. Apenas eu senti a presença do Destinado. Se outros tivessem visto a desgraça que você fez, provavelmente, dias atrás, você já teria sido condenado pela Suprema Corte dos Reapers.
Heaven: Eu não queria...
Envy: Salvou a vida de um humano, Heaven. Como assim “não queria”? Ainda por cima virou amiguinho dele. Você é o mestiço mais filho da puta que eu conheço. Pra falar a verdade, a sua mãe era uma puta, mesmo!
Heaven: Seu desgraçado!

   O braço de Heaven é tomado por chamas negras e vermelhas. Ele tenta atingir Envy, mas o Reaper pula por cima dele e lhe chuta para a rocha novamente.

Envy: Heaven, você é um mestiço. Não pode me destruir, ocasionando minha morte, mas pode muito bem me mandar para o vácuo por longo tempo. No entanto, chega a ser engraçado ver quão frágil você é. Acha mesmo que o seu poderzinho recém-saído do forno vai me causar algum dano? Você precisa de mais. Pode conseguir mais, se quiser.
Heaven: O que você está insinuando?
Envy: Venha para o meu lado, Heaven. Seja meu amigo e meu braço direito no meu plano. Eu prometo lhe ensinar tudo o que você precisa saber.
Heaven: Está maluco. Do que você tá falando?
Envy: Seja meu aliado e ajude-me a encontrar o colar de Kira.

  Heaven fica perplexo e se levanta.

Heaven: O que é isso? Eu não sei o que é.
Envy: É um artefato que pertenceu a ninguém mais, ninguém menos que a sua avó, Kira. Poderemos arrancar as almas de milhares de humanos ao mesmo tempo. Seremos detentores de um poder grandioso e absoluto.
Heaven: Você enlouqueceu! O que vai ganhar com isso?
Envy: Muitas coisas. Você precisa encontrar o colar para mim!
Heaven: E se eu não quiser? O que vai fazer? Me matar? Me deixar perto da morte para depois ter o mesmo fim que eu terei? Me mate, seu imbecil. Eu me tornarei um Reaper Normal e você será destruído para todo o sempre! Vá em frente. Eu não farei o que você quer.
Envy: (sorri) Ah, não fará?

    Envy agarra Heaven pelo pescoço novamente, mas o garoto usa a técnica DARKFIRE para se teleportar e aparece atrás dele. Heaven tenta golpeá-lo. Envy agarra seu braço e o gira no ar, derrubando-o no chão. Envy se agacha e lhe aponta uma bela FACA com diamantes cravados na bainha.

Envy: O que aconteceria se eu te entregasse à Suprema Corte Reaper? Hm? Responda-me. Ficou calado por quê? Não tem uma resposta que lhe favoreça, não é? Sabe muito bem que será extinto de qualquer tipo de vida ou de morte. Você será destruído. Não pode me matar, mas eu posso fazer com que você morra. Duas vezes. Posso fazer também com que a sua querida humana, Alice, vá para o quinto dos infernos.
   
Heaven se levanta e empurra Envy. Ele se afasta, mesmo ferido.

Envy: Eu tenho gente comigo, Heaven. Posso fazer com que acabem com a vida de sua ternurinha ou com a mesma vida que você salvou na semana passada.
Heaven: Não toque neles!
Envy: O quê? Com pena dos humanos, Sullivan? Até o dia em que você retornou do Monte Maian, você os odiava. O que te fez mudar de ideia? Conrad? (gargalha).
Heaven: Onde está esse colar?

    Envy lança um olhar furioso sobre Heaven.

Envy: Se eu soubesse, não mandaria um idiota feito você, procurar. Somente Reapers Mestiços com uma Energia considerada superior podem rastrear o objeto. Você fará isso por mim.
Heaven: Eu não consigo rastrear nada.
Envy: Dê o seu jeito. Tenho certeza que aprenderá. Eu te darei um prazo para encontrá-lo para mim, se não o fizer, eu entregarei a sua cabeça para a Reaper Society, mas antes disso, eu farei todos os seus amados humanos sofrerem as consequências.
Heaven: Eu não posso te garantir nada.
    
Envy se teleporta e aparece atrás de Heaven. Ele passa a faca pelo pescoço do garoto.

Envy: Eu também não posso te garantir nada. (sorri)
     Envy começa a ser coberto por DARKFIRE. Heaven vira-se para vê-lo.

Envy: É a sua oportunidade de fazer as coisas certinhas, Sullivan. Encontre o colar e eu pouparei sua vida e a de todas essas pessoas que você diz gostar.
   
      Envy desaparece. Heaven se ajoelha e coloca as mãos na cabeça. Ele grita.

Heaven: Não! O que eu fiz?!

     Ele cai e adormece.


CENA 20. EXT. ROSALE HILL BEACH - NOITE




[Música Tocando: Resistance – Muse]

As seguintes imagens são exibidas:

1. Heaven saindo da praia, totalmente ferido.
2. A sala de TV da casa dos Sullivan. Conrad está deitado no sofá. A televisão está ligada. Ele tem uma foto dele beijando Claire, em suas mãos. Ele fita a imagem e chora.
3. Heaven andando por uma rua vazia. Ele cai no chão e cospe sangue.
4. Sky se olhando no espelho. Ele tira sua camisa. CAM focaliza seus olhos fixos no espelho e percorre o corpo do rapaz cheio de cicatrizes. CAM se aproxima de uma cicatriz no peito dele, do lado do coração, letras bem desenhadas formando a palavra ABERRAÇÃO.
5. Heaven se TELEPORTANDO até o quarto de Alice. Ele se aproxima da cama dela, onde ela dorme profundamente. Heaven toca Alice, mas sua mão atravessa o rosto dela. O Reaper oberva a humana dormir. Ele fecha os olhos e se retira do lugar pulando a janela.
6. Enquanto Heaven está indo embora, Clark aparece por trás da janela da sala escura. A luz da rua iluminando o seu rosto obscuro. Ele observa Heaven se afastar. Várias mãos cinzentas e sujas tocam o rosto de Clark, ao mesmo tempo em que seu olhar enfurecido é lançado sobre a figura de Heaven.


[TELA PRETA]

[FADE OUT]