sábado, 13 de setembro de 2014

EPISÓDIO 1x2 - FRAQUEZA

EPISÓDIO 2. FRAQUEZA
ESCRITO POR RAUL ORIHARA
SUPERVISIONADO POR RENAN AMORIM
LANÇAMENTO: 13 DE SETEMBRO DE 2014










CENA 01. INT. ROSALE HILL HOSPITAL CENTER/QUARTO - TARDE

  [FADE IN]

    Dakota entra no quarto, onde Sky está internado. O rapaz está deitado num leito lendo um livro. Ele olha para a mãe que traz consigo uma mochila.

Dakota: Sky! Ai, meu Deus!

    Dakota se aproxima de Sky e olha o estado do rapaz.

Dakota: Meu Deus! O que houve com você, meu filho?! Nossa... Essa perna. Veja só! (aponta para a perna de Sky enfaixada).
Sky: Eu já vi, não insista para eu ver isso. E foi apenas um acidente de carro. Nada de mais.
Dakota: Nada de mais! Vindo de você, nada de mais é o fim do mundo. Você quer morrer? Veja o seu estado!
Sky: Olha, mamãe! Eu estou bem psicologicamente, fisicamente e ironicamente. Eu estou legal demais pra você ficar aí fazendo drama, por favor.
Dakota: Drama? Chama isso de drama?! Eu chamo de preocupação, seu moleque! Sabe por que você está assim? Porque insiste em me desobedecer. Eu sou sua mãe.
Sky: Desde os meus nove anos, eu sei que a senhora é minha mãe, tá bom? E se eu te desobedeço é porque a senhora merece. Enfim, eu não estou lá um lutador de UFC para discutir com você agora. Meu corpo dói por inteiro.

    Dakota se comove.

Dakota: Filho, eu só não quero te ver metido em encrenca. Encrenca como essa daqui, na qual você se meteu. Você poderia ter morrido, Sky.
Sky: Mas eu não morri.
Dakota: Mas poderia.


CENA 02. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA - TARDE

       Heaven entra em casa com pressa. Ele esbarra em Conrad e não fala com ele, subindo a escada logo em seguida.

Conrad: Heaven! O que houve?!

     Heaven segue para o seu QUARTO e se tranca. Ele parece bastante nervoso.

Heaven: Não... O que deu em mim? O que eu fiz?! Não posso ter feito uma coisa dessas... Não.

     Conrad bate à porta dele.

Conrad (Voice Off): Heaven! Está tudo bem?

    Heaven não responde.

Conrad (Voice Off): Heaven? O que tá acontecendo?
Heaven: Cai fora! Eu quero ficar só!

    Um portal de chamas negras invade o quarto de Heaven. Conrad aparece e se aproxima do irmão.

Conrad: Quer me explicar o q...
Heaven: Eu falei pra cair fora!

    Heaven dá um soco no irmão, fazendo ele cair pela janela.


CENA 03. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE INT. TARDE

  Alice está em seu quarto, mexendo no computador. CAM focaliza na tela do aparelho. Uma foto de Conrad Sullivan é exibida.

Alice: Conrad Sullivan, o novo nome de peso representando os belos modelos da agência de Dakota Daniels no estado da Califórnia. (pausa) Conrad Sullivan... Heaven Sullivan... Tem algo de muito esquisito com aqueles dois e eu vou descobrir o que é.


[TELA PRETA]







CENA 4. HOSPITAL ROSALE HILL/QUARTO INT. TARDE

    Dakota entra no quarto novamente e observa Sky tentando se levantar.

Sky: Já posso ir embora?
Dakota: Pode sim. Você não fraturou nada. Essa sua perna aí é que vai te manter quietinho por um longo tempo.
Sky: E o meu carro?
Dakota: Carro? Seu carro já era. Se quiser outro, compre. E só pra constar, eu bloqueei seus cartões.
Sky: Mas o quê? Você não pode fazer isso comigo!
Dakota: Sky, você vai repousar, okay? Nada de me dar trabalho ou (pausa) trabalho para as pobrezinhas das enfermeiras.
Sky: Eu sou maior de idade!
Dakota: Maior de idade, mas não tem dinheiro para se manter o maioral!
Sky: Não acredito nisso.
Dakota: Pode ir acreditando. (joga uma jaqueta na cara de Sky) Coloque sua jaqueta e vamos embora. Eu odeio hospitais.
  

CENA 05. EXT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/JARDIM – TARDE

      Conrad se levanta, tonto. Claire anda pela rua e vai ao encontro do rapaz, sorrindo.

Claire: Que bonitinho... Briga de irmãos.
Conrad: Não enche, Claire!
Claire: Cara! Você tá um caco. Aliás, ‘Conrad no céu com cacos de vidro’ daria uma ótima música. O que houve com o Heaven? Ficou zangado com o que eu falei?
Conrad: Você ao menos disse alguma coisa ao Heaven?
Claire: Mas é claro, tolo. Eu não iria dizer nada para não estragar a amizade, mas disse pelo bem dele. Ele concordou. Agora se esse foi o motivo que o fez ter que te arremessar pra fora de casa, eu já não sou culpada.
Conrad: Você é chata assim mesmo ou fez cursinho?!
Claire: Graduada, meu bem. Desembucha! o que aconteceu?
Conrad: Nada demais, ele apenas chegou todo estranho e furioso, pelo visto.
Claire: O garoto acabou de chegar de viagem, Conrad. Se liga. Ficar fora de casa por um ano e ainda por cima sendo obrigado a ficar num lugar no qual ele não queria foi horrível. Ainda mais sabendo que o irmão não quer que ele seja um Reaper como ele tanto sonha em ser.
Conrad: É complicado, mas ele vai ter que se acostumar. Eu não vou brincar mais em serviço. Heaven vai parar de uma vez por todas com essa loucura. (coloca as mãos na cabeça) Ai!
Claire: Conrad?

   Conrad cai, desmaiado. Claire corre para socorrê-lo.


CENA 06. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN /QUARTO DE HEAVEN - DIA

   
[Música: Best Friend – Foster The People]

   Imagens da cidade são exibidas. Heaven anda pelas ruas com a cabeça coberta pelo capuz de seu moletom. Ele entra em um beco isolado e chamas negras e azuis cobrem seu corpo. Ele desaparece e aparece em um banheiro onde uma garota nua definha numa poça de sangue.

Heaven: É disso que eu preciso. É disso! Sim!

   Uma chama negra e avermelhada cobre seu braço direito. Ele perfura o peito da garota e arranca sua alma.

Heaven: Vá para o outro mundo, alma destinada!

   Heaven desaparece do lugar novamente e reaparece em uma sequência de lugares distintos, arrancando almas de outros Destinados.

Heaven: Esta é a razão pela qual eu vivo.

   Um flash de imagens do acidente de Sky é exibido. Heaven fica atordoado. A música cessa lentamente.

Heaven: Não! Sai! Some! Não podia ter feito aquilo!


CENA 07. ROTA DE ENTRADA DE ROSALE HILL

     [FLASHBACK]


[Música: Nightmare - Avenged Sevenfold]


   Heaven se aproxima do carro de Sky, já capotado. Ele se agacha e fita o rapaz ferido e gemendo.

 Heaven: Hum... Vamos ver... Carbonizado? Vai ser mais difícil do que eu pensei.
Sky:(ofegante)V-você! Me ajuda...

     Heaven se assusta.

Heaven:(rosto atônito) C-como?!
Sky: Me ajuda por favor...
Heaven (Voice over): Ele consegue me ver? Mas como?!
Sky: Rápido... Por favor. Eu tô preso aqui!

 Heaven fica perplexo. Seus olhos se voltam para a estrutura do carro. Ele ainda está confuso.

Heaven: Não importa! Você! Está preparado?
Sky: O quê?! Me tira daqui... Por favor... Me tira! Eu preciso...
Heaven: É... Eu acho que está...

   Heaven impulsiona seu braço para trás. Sua mão direita começa a pegar fogo, mas um fogo negro e alaranjado. As pontas de seus dedos cintilam e as chamas que as envolvem produzem um barulho como se fossem faíscas. Ele mira no rosto de Sky. A câmera dá um close no rosto de Sky que está desesperado e consegue enxergar a luz avermelhada na mão de Heaven.

Sky: O-o que você está fazendo?!

   A câmera dá um close no rosto de Heaven. Os olhos dele mudam de cor, de azul para vermelho. Os olhos são destacados. Ele suspira.

Heaven: Chegou a sua hora, alma Destinada!
Sky: Socorro! Me tira daqui, rápido! O carro vai explodir!
Heaven: Você não colabora, mesmo, hein?

 Heaven encara o olhar de Sky por alguns segundos.

Heaven: Como assim?

    Heaven exita e abaixa o braço. Ele olha para os lados, perfura o carro com seu braço flamejante e com facilidade, retira Sky dali. Rapidamente, ele o leva para a estrada. Sky está desacordado.

Heaven: Cara! Você vai dormir logo agora? Patético. O que é que eu vou fazer contigo, hein?

    Heaven coloca Sky no ombro e o leva para o hospital da cidade. Ele tira algo do bolso de Sky.

Heaven: (abrindo uma carteira) Vejamos... Sky Daniels. Não acredito que você é o filho daquela Poodle de Louboutin. Coitado, não é a toa que tenha jogado o próprio carro naquele barranco. Quem iria querer ser filho daquela maluca?!

    Heaven observa o rapaz jogado no chão do corredor. Ele coloca a identidade de Sky na mão esquerda dele.

Heaven: Vou deixar você por aqui. Por favor, não se meta mais em confusão. Você me parece perigoso demais pra andar livre por aí.

     O Reaper anda até o final do corredor e desaparece através das chamas.

[FLASHBACK OUT]


CENA 08. INT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/QUARTO DE CONRAD – TARDE

   Conrad está em sua cama, repousando. Claire lhe serve água e um remédio.
Conrad: Minha cabeça vai explodir. (toma o remédio)
Claire: Não sei como você ainda está vivo, Conrad!
Conrad: Porque eu sou forte.
Claire: Sua força vai se extinguir em breve. Você precisa focar no seu trabalho, urgentemente.
Conrad: Eu já sei, Claire.
Claire: Não, você não sabe. Se não procurar seguir as leis dos Reapers, vai acabar morrendo espiritualmente e se isso acontecer, você já era!
Conrad: Okay. Amanhã eu vou começar a minha “caçada”. Tudo bem?
Claire: Tudo sim.
Conrad: O Heaven... Cadê ele?
Claire: Não está mais no quarto. Deve ter voltado ao serviço. Eu já sabia que não ia adiantar pedir para ele parar.
Conrad: Eu nem sei mais o que fazer.
Claire: Se o mestre Maian não conseguiu colocá-lo no lugar, quem somos nós?  
Conrad: Heaven estava estranho... Não sei o que aconteceu, mas o olhar dele não está normal.


CENA 10. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/QUARTO DE SKY - TARDE

     Sky entra em seu quarto, acompanhado da mãe. O rapaz anda sobre muletas. Ele senta-se na cama e olha o ambiente ao seu redor. Um quarto cheio de quadros, réplicas de quadros famosos como “O Grito” e “Monalisa”. Sky olha para o teto onde o 'Homem Vitruviano' está desenhado perfeitamente.

Dakota: Bom, agora vê se você repousa, tudo bem?
Sky: Eu vou descansar se a senhora sair do meu quarto.
Dakota: É sério, querido. Eu não quero ver você metido em mais confusão. Você vai deitar e nada de andar perambulando por aí.
Sky: Já ouvi.
Dakota: Se o senhor se comportar, quem sabe eu não desbloqueei os teus cartões, hein? Só quero que você amadureça e não crie mais problemas, Sky.
Sky: Eu já ouvi. Pode sair


CENA 11. INT. RESIDÊNCIA DOS SUMMERS/QUARTO DE ALICE – NOITE

     Alice está sentada à mesa do jantar com seu pai. Ela remexe a comida no prato, sem comer um grão.

Richard: Alice, não vai comer?
Alice: Desculpe-me, papai. Eu não estou com fome.
Richard: Tudo bem aí? O que está sentindo?
Alice: Um pouco de medo. Parece tudo calmo pra mim, mas e se acontecer de novo e se eu não conseguir me controlar como antes?
Richard: Alice, você tem que continuar com a sua vida sem ficar se preocupando com isso. Já passou, você está bem. Aquilo não vai mais se repetir.
Alice: Mesmo assim, isso me deixa aflita.
Richard: Quer me contar alguma coisa.

    Alice coloca comida na boca e faz que não com a cabeça.

Richard: Hm, e como estão as coisas com Dakota? Ela apresentou você aos contatos dela?
Alice: (sorri) Sim! Ela tem muitos amigos que são estilistas famosos aqui na Califórnia. Ela trabalha para alguns na comercialização de suas modelos.
Richard: Que ótimo! Pode pegar dicas da alta moda com essas pessoas, querida.
Alice: Sim, papai.
Richards: E como a Dakota está?
Alice: Estava muito bem. Não demorou muito comigo porque o filho dela estava no hospital. Parece que ele sofreu um pequeno acidente hoje de manhã na saída da cidade, mas nada de grave.
Richard: Minha nossa. Ela deve estar muito aflita.
Alice: Ela é mãe, deve estar. Vou ligar para ela pra saber como é que está por lá.


CENA 12. CEMITÉRIO DE NOVA IORQUE - TARDE

   [FLASHBACK IN]

     Alice chora nos braços do pai enquanto o caixão que guarda o corpo de sua mãe é totalmente coberto por terra. Richard chora e abraça forte sua filha. Alice encosta o rosto no ouvido do pai.

Alice: Pai, eu não quero ver mais eles.
Richard: Ver a quem, minha filha?

     O homem coloca a filha no chão e se agacha, olhando firme em seus olhos.

Richard: Eles, quem? Alice...
Alice: Não quero mais ver, pai! Eu vi a mulher com a minha mãe. Ela tava mandando a mamãe se jogar. Eu ouvi.
Richard: Que mulher, Alice?
Alice: Aquela mulher de cabelo loiro que estava com a mamãe. Ela caiu junto com a mamãe. Ela está por aí, papai. Eu não quero mais ver ela e nem os amigos dela! Eu não quero!

     Alice grita e todas as pessoas ali presentes a observam. Uma intensa chuva cai e Richard olha para os cantos, procurando algo.

[TELA PRETA]



CENA 13. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/QUARTO DE SKY – NOITE

  
 
[Música: Requiem – MOZART, Amadeus Wolfgang]

  Sky sentado diante de um cavalete na janela de seu quarto. CAM acompanha cada movimento do pincel na tela. Sky muda de pincéis várias vezes e mistura tintas procurando a cor perfeita. Ele olha para o céu. Uma lua cheia cintilante ilumina seu quarto escuro. Sky volta a pintar. O tempo passa e ele guarda os pincéis, concluindo seu trabalho. Ele acende as luzes e olha para o quadro, impressionado com o que pintou. CAM focaliza na tela pintada por Sky. O rosto de Heaven perfeitamente pintado, olha diabolicamente para o seu criador.
Sky: Meu Deus! Consegui... Incrível. Esse é o garoto de ontem...



CENA 14. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA PRINCIPAL – NOITE

    Heaven entra rapidamente em casa e leva um susto ao ver o irmão no topo da escada. Ele para no meio da escadaria e olha para Conrad.

Conrad: Heaven, pode me explicar o que está acontecendo? Por que está agindo assim?
Heaven: Eu devo alguma coisa a você? Não. Então me deixa em paz, Conrad.
Conrad: Voltou a sua fase de loucura?! Eu sabia que você iria continuar...
Heaven: Voltei ao meu estado mental saudável. Me erra! Eu sei o que eu faço.
Conrad: Meu último aviso, Heaven... Pense bem no que você faz com a sua vida. Quando ela acabar, você não terá mais nada a não ser a maldita tarefa que você acha que te faz feliz.
Heaven: Quantas vezes eu vou ter que dizer a você que eu não me importo com as suas opiniões?

     Heaven continua subindo.

Conrad: Escute aqui... O que você está escondendo, hein, Heaven?

     Heaven olha para Conrad e sorri.

Heaven: Tá de brincadeira, né? O que diabos eu tenho para esconder?
Conrad: Você está diferente... Agindo muito além do de uma simples raiva. Tem algo para me dizer?
Heaven: Bem, irmão... Tenho sim.
    Heaven abaixa a cabeça e olha de novo para Conrad.
Heaven: Vá se foder!
    Chamas negras cobrem o corpo de Heaven e ele desaparece. Conrad balança a cabeça, pensativo.



CENA 15. INT. RESIDÊNCIA DOS DANIELS - DIA
   
 
[Música: Good Morning, Good Morning – The Beatles]

 São exibidas as seguintes imagens:
    Principais pontos da cidade. Pessoas correndo pela praia. Mulheres fazendo compras e crianças brincando. Sky acorda e se arruma. Ele não consegue andar direito, então pega uma de suas muletas. Ele vai até a casinha de seu cachorro, Kitten, e prende a correia na coleira, levando-o para sair.

   [Música Encerra]



CENA 16. EXT. ROSALE HILL BEACH - DIA

   Heaven está andando pela praia olhando para a imensidão do mar, perdido em seus pensamentos. O cachorro de Sky para e observa o garoto. Ele começa a latir e querer fugir, mas Sky tenta contê-lo. Heaven ignora o cachorro e continua andando. O cachorro se solta de Sky e corre, avançando para cima de Heaven que cai e tenta segurá-lo para não ser mordido.

Sky: Kitten! Kitten, pare!

   Sky tenta correr para deter o cão.

Heaven: Sai de cima de mim, seu cachorro louco!
Sky: Kitten!
Heaven: Para, seu cachorro malvado!

    Os olhos de Heaven mudam de cor e o cachorro corre ‘chorando’ para trás de Sky, com medo.

Heaven: Caraca!
Sky: Oi... Tá tudo bem aí? Foi mal...

   Sky para e fita perplexo o rosto de Heaven. Ele abre a boca, surpreso.

Sky: Você...

   Heaven se assusta ao lembrar que Sky era o cara que ele salvou no acidente.

Heaven: O que tem eu?
Sky: Cara! Foi você... Você é o garoto que me salvou do acidente.
    Heaven olha para os lados, aflito.
Heaven: Dá pra falar baixo? Você parece descontrolado.
Sky: Você me tirou do carro e me levou pro Hospital. Eu lembro... Foi você. (sorri)

     CAM focaliza no rosto sério de Heaven.

[TELA PRETA]


CENA 17. INT. BAR ROSALE BEACH – DIA

    Sky e Heaven estão sentados na mesa de um bar da praia, conversando. Kitten está sentado junto com eles.

Sky: Então, Heaven... Certo? Por que você sumiu assim? Deveria ter esperado a minha mãe.
Heaven: Não sou de me dar bem com seres humanos, digo, pessoas... Não queria que ninguém me agradecesse por nada.
Sky: Nem por ter salvado a vida de outro ser humano?
Heaven: Desculpa, mas eu não sou do tipo que gosta de ser glorificado por qualquer que seja a ação. Eu salvei a sua vida e ponto. Acabou.
Sky: Mas poderia ter me deixado lá para morrer.
Heaven: E eu poderia carregar uma puta de um peso na minha consciência por deixá-lo virar churrasco para a morte. O que significa que ninguém deve nada a ninguém.
Sky: Bom, você me livrou da morte. Talvez as pessoas que você conheça não queiram dever nada a você, mas eu devo. Sempre fui grato a todas as pessoas que me fizeram bem, pelo simples fato de que muitas outras me fizeram mal. Salvar a minha vida, enquanto já existiu quem tentasse tirá-la, é algo digno da minha gratidão.
Heaven: Que legal! Sabe o que me deixaria grato, também? Se você mantivesse esse seu cachorro longe de mim.
Sky: Ah... O Kitten é o meu melhor amigo.
Heaven: Que tipo de pessoa chama o cachorro de Kitten?
Sky: Uma pessoa filosófica como eu.
Heaven: Você não me parece filosófico, você está mais para um recém-saído de uma clínica psiquiátrica.
Sky: Não me julgue... Eu saí de uma clínica, mas de reabilitação.
Heaven: Eu sabia que você já tinha sido internado em algum lugar. É a sua cara mesmo.
Sky: Só que eu dei um jeito de sair de lá sem que ninguém visse. Eu sumi após aplicar tranquilizante nos guardas.
Heaven: E ninguém teve inteligência para saber que o seu lugar era numa clínica psiquiátrica, depois disso?
Sky: (sorri) Você é engraçado, moleque... E, bom... Não. Fui colocado naquele inferno injustamente. Eu já fui colocado em tantos lugares, Heaven. Preso injustamente em tanto lugar que hoje, o que eu mais quero ter é liberdade.
Heaven: E a liberdade que você quer tanto ter é para estragar todos os membros do seu corpo? (ele aponta a perna ferida de Sky).
Sky: Quero ter liberdade para fazer coisas tão grandes quanto as que fizeram comigo, mas isso é uma longa história e não interessa. Você bebe? Aqui tem uma bebida chamada “Queimando no Inferno”.


CENA 18. EXT. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN – DIA

   Um táxi para em frente à casa dos Sullivan. Alice desce do carro, fecha a porta e observa o lugar soturno. Uma casa gregoriana e cheia de arbustos e árvores fantasmagóricas. Ela segue até a porta e aperta a campainha, mas ninguém responde.

Alice: Olá?

   A porta se abre. Ela olha para trás e observa o táxi sumir. A pouca quantidade de pessoas na rua a assusta. Ela entra e fecha a porta.

Alice: Olá? Tem alguém aí?

   Alice segue até a sala principal e não vê ninguém. CAM focaliza no quadro da sala onde está a foto de Heaven e sua família. Alice olha para o gigante porta-retratos, assustada. Um flash com imagens dos olhos de Heaven lhe atormenta.

Alice: Ai, meu Deus! Não!

   Ela grita e cai de joelhos com as mãos na cabeça, desesperada. A voz de Heaven e de outras pessoas ecoa em sua cabeça.



CENA 19 – INT. HOSPITAL/QUARTO DE HOSPITAL – DIA

[LEGENDA] LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

     Um prédio de vinte andares com um enorme jardim ao redor. Conrad está em um quarto. Ele observa pessoas chorando diante de um homem que está à beira da morte. Claire está do lado dele. Ninguém os vê. Conrad se aproxima do homem e lhe arranca a alma. O monitor cardíaco emite um bip contínuo. Conrad observa os familiares do morto se desesperarem. Tudo fica mudo, preto e branco e a cena entra em SLOW MOTION. Claire toca no ombro de Conrad e a cena volta ao estado normal.

Claire: Tudo bem, Conrad?
Conrad: Tudo sim...
Claire: Está pensativo.
Conrad: O ser humano é tão frágil e forte ao mesmo tempo, Claire.
Claire: Eles são dominantes enquanto possuem saúde, depois que a perdem, tornam-se ratinhos de laboratório e são dominados. O que há com você? Não vai querer mais selar almas, Conrad?
Conrad: Não... Não é isso. Tudo é complicado.
Claire: É complicado, mas você precisa fazer isso, do contrário irá definhar. Bem vindo de volta às suas tarefas.
Conrad: Você é impassível, não é mesmo?
Claire: Eu sou tudo aquilo o que me resta ser.
Conrad: Tudo aquilo que você sempre sonhou. Não achava que fazer isso daqui seria tão importante para você, Claire.
Claire: Cada coisa com a sua importância na vida.
Conrad: No caso, a morte das pessoas é a coisa mais importante para a sua vida.

    Claire fica calada.

Conrad: Saiba que eu só faço esse tipo de coisa porque o destino foi cruel demais comigo e com o meu irmão. Apenas isso. É pela minha sobrevivência, mas não porque eu ame fazer.

   Conrad começa a ser queimado pelas chamas negras e desaparece da frente de Claire. Ela olha para o homem morto e a sua família chorando sem demonstrar uma emoção.



CENA 20 – EXT. RUA DE ROSALE HILL - DIA

   Heaven anda com Sky por uma rua de Rosale Hill. Os dois conversam.

Sky: Então quer dizer que você é irmão do Conrad Sullivan? Caraca... Deve ser mó chato ser perseguido por paparazzi durante viagens, não é?
Heaven: Na verdade, eu não costumo viajar com meu irmão. Não gosto muito da vida na cidade e nem de me relacionar com pessoas... Acho os humanos tão sufocantes e não tão inocentes quanto parecem. Isso me incomoda.
Sky: (sorri) E você não é humano?
Heaven: (arregala os olhos) Não!

    Ele sorri e o cachorro de Sky volta a latir para ele.

Heaven: Nossa! Esse seu cachorro-gato não foi com a minha cara, mesmo, hein?
Sky: Ele é assim no começo. Implica com todo mundo.
Heaven: Ah, sim. Do mesmo jeito que eu.
Sky: Okay, Heaven. Agradeço a sua atenção, mas agora eu preciso ir. Precisava respirar um pouco, mas minha mãe não sabe que eu saí e se souber vai enlouquecer. O que não é nenhuma novidade.
Heaven: Tudo bem.
Sky: Até logo, então e mais uma vez... Muito obrigado pelo que fez.

   Sky cumprimenta Heaven numa espécie de High Five.

Sky: Obrigado de verdade, irmão.



CENA 21. RESIDÊNCIA DOS SULLIVAN/SALA PRINCIPAL – DIA.

   Heaven abre a porta de sua casa e entra. Ele olha para os lados, sentindo a presença de alguém por ali. O rapaz anda pela sala e nada vê. A câmera focaliza no rosto amedrontado de Alice. Ela está segurando um abajur em uma de suas mãos. Heaven se vira e dá de cara com a garota.

Heaven: Mas o que significa isso?!

   Alice corre na direção de Heaven e tenta acertá-lo com o abajur. Heaven se assusta e desvia dos golpes da garota.

Heaven: O que diabos você faz aqui?
Alice: Você! Eu sabia! Você é um deles!
Heaven: É o quê? Mas do que você tá falando?
Alice: Você é um daqueles demônios que me atormentam.
Heaven: Eu nem sei do que você tá falando!
Alice: Como é que não sabe?! Eu lembro de você... Você e todos que me perseguem! Um dos seus matou a minha mãe! Seus malditos.

   Alice pega uma tenaz da lareira e tenta acertar Heaven. O Reaper segura a tenaz com uma das mãos e empurra a humana contra a parede. Chamas negras cobrem o corpo de Heaven e ele some. Alice se levanta, dolorida. Heaven aparece ao lado dela e aponta a tenaz para o seu rosto.

Heaven: Então quer dizer que você pode nos ver, não é mesmo? Mas por que toda essa revolta?
    Alice olha amedrontadamente para Heaven.
Heaven: O que você pensou que aconteceria? Que entraria na minha casa e tentaria me espancar e eu iria deixar isso acontecer sem mover uma palha? Acho melhor você explicar muito bem os seus motivos para vir parar aqui.



CENA 22. RESIDÊNCIA DOS DANIELS/QUARTO DE SKY – DIA


[Música: May Seem Macabre – Peter Bjorn and John]

  Sky tira o quadro que pintou de Heaven da janela e o cobre com um manto branco, guardando-o em um canto do quarto. Ele se joga na cama e desenfaixa uma parte de sua perna. Ele vê sua perna pouco ferida e franze o cenho, perplexo.

Sky: Mas o que significa isso?
Dakota (Voice Off): Sky!
  
  O garoto percebe que a mãe está chegando e cobre a perna com um cobertor. Dakota aparece e se aproxima do filho.

Dakota: Não acredito que você saiu.
Sky: Ok. Chega de implicar comigo, por favor. Eu quero ficar em paz.
Dakota: Você quer é outra perna detonada, isso sim.
Sky: Eu só fui tomar um ar, nada demais. Não me machuquei e nem machuquei ninguém. Apenas fui respirar lá fora e eu ainda encontrei o garoto que eu lhe falei.
Dakota: O menino que salvou você?
Sky: Sim. O Kitten quase o estraçalhou, mas tudo bem. Ele é simpático. Gente boa, mesmo.
Dakota: E de onde ele é? Não falou?
Sky: Ele é irmão de Conrad Sullivan.
Dakota: Meu Deus, como esse mundo é pequeno...
Sky: Não, Dakota. Como Rosale Hill é pequena!
Dakota: Conrad Sullivan tem um irmão, de fato. Se não me engano, ele estava viajando para o Japão e acabou de voltar.
Sky: Esse daí mesmo. O cara é muito engraçado, você precisa conhecer. Idêntico ao Conrad.
Dakota: Deveria chamá-lo aqui. Queria agradecê-lo pessoalmente pelo que fez.
Sky: Ele não é muito fã de agradecimentos.
    
    A música continua tocando na cena seguinte.

CENA 23. EXT. ROSALE HILL BEACH - DIA
   
  Heaven anda pela praia com Alice. A garota olha para baixo o tempo todo e o rapaz se mantém sério.

Alice: Não consigo acreditar nisso... É assustador. Eu passei todo esse tempo suportando esse medo. Convivendo com essa angústia, essa perseguição dentro de mim. Fui internada em um sanatório porque não conseguia mais aguentar todas essas coisas acontecendo. E tudo parece ter retornado...
Heaven: Alice, por favor. Você é inocente demais para a sua idade. Pensou que iríamos dominar o mundo? Jamais.
Alice: Mas por quê? Por que vocês perseguem os meus sonhos? Por que vocês me perturbam?
Heaven: Ver e ouvir Reapers e espíritos, só fez você ficar traumatizada. Os seus sonhos são reflexos dos seus medos. Você enxerga o nosso mundo assim e não tem escapatória. Sendo uma Canalizadora, ou seja, alguém que vê e interage com indivíduos do outro plano, você não tem como fugir de conviver com esse medo.
Alice: Então quer dizer que minha mãe não foi morta por ninguém?
Heaven: Você apenas viu sua mãe se suicidar e algum Reaper selar a alma dela.
Alice: Mas eu lembro muito bem! Eu a vi sendo induzida por uma mulher a se jogar.
Heaven: Reapers não podem induzir ninguém a se matar. Os humanos não nos enxergam, a não ser que sejam canalizadores, mas ainda assim, eles não podem interferir em nada.
Alice: E os outros não te enxergam?
Heaven: Eu uso uma técnica chamada “Manto da Morte” que faz com que Reapers Mestiços fiquem invisíveis por um tempo. Dessa forma, eu arranco almas de pessoas sem que ninguém me veja.
Alice: Isso é sombrio demais. Você é assustador. Eu não consigo acreditar nessas coisas.
Heaven: Você convive com essas coisas, Alice. Tem que acreditar. Eu sou um anjo da morte e todos os que me rodeiam também são. Nós não fazemos mal às pessoas. Nós apenas lhe arrancamos as almas porque esse é o destino de todas elas.
Alice: E você foi obrigado a fazer isso?
Heaven: Eu sou humano e Reaper, garota. É mais do que uma obrigação. É uma honra para mim.
Alice: Honra? Fazer esse tipo de coisas é uma honra para você?
Heaven: Minha mãe era um anjo da morte e diferente dela, eu não nasci totalmente Reaper, eu aprendi a ser um. Ela não se encontra mais entre nós, mas eu posso fazer tudo o que ela fazia com total perfeição.
Alice: Mas você também é humano, não é?
Heaven: Infelizmente, eu sou. Mas vivo como um anjo e é isso o que eu serei.

    Alice olha para o horizonte.

Alice: Eu não sei mais como reagir a tudo isso.
Heaven: Viva a sua vida, Alice, sem medo de nada. Ninguém irá tocar um dedo em você a não ser quando chegar a hora da sua morte. Esqueça essa história de que mataram a sua mãe. Pare de invadir a casa dos outros e agir como uma louca. Se continuar fazendo isso, voltará para o manicômio de onde você saiu.
Alice: Por que está me dizendo essas coisas?
Heaven: Porque você é só mais uma mortal. O que quer que eu faça? Que eu arranque a sua alma? Se eu pudesse, eu teria feito no momento em que você tentou me ferir. Eu não fiz nada e nem farei. Você não vai me impedir de nada e nem pode evitar que os outros Reapers parem de fazer o que fazem. O mais provável de acontecer seria você ser tida como louca, novamente.
Alice: Está dizendo para eu não ter medo? E se...
Heaven: E se o quê? Todo esse sistema existe antes mesmo de você existir, antes mesmo de mim, também. Você não tem que ter medo de nada. Tudo ao seu redor é morte, tudo ao seu redor morre.
Alice: Só posso estar louca desde que nasci.
Heaven: Loucura ou não, é inevitável. Espero que entenda.


       [Música Encerra]



CENA 24. EXT. ROSALE HILL BEACH – DIA

    Envy está escondido atrás de uma árvore na praia. Ele observa Heaven e Alice sentados na areia, conversando. O Reaper pega seu telefone e disca um número. Alguém atende com uma voz masculina.

Voz Misteriosa: Alô?
Envy: Olá... Tenho boas notícias. Acho que já sei quem eu vou manipular para nos ajudar.
Voz Misteriosa: Quem?
Envy: Um mestiço. Para ser mais direto... Um Sullivan. Heaven Sullivan. Ele está em nossas mãos.

[FADE OUT]
[FIM DO EPISÓDIO]